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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Medicamentos para problema de atenção não surtem efeito em pessoas saudáveis, diz médico

Medicamentos destinados ao tratamento de doenças psiquiátricas ou neurológicas têm sido utilizados por estudantes e profissionais que desejam melhorar o rendimento na execução de suas tarefas. Mas especialistas divergem sobre o real efeito desses medicamentos em pessoas saudáveis e alertam que o uso offlabel (que difere do propósito original) pode acarretar problemas.

São os casos da Ritalina e do Concerta (metilfenidato) – substância indicada para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) - e também de outras drogas como o Provigil ou Stagivile (modafinil) – utilizados em casos de narcolepsia (distúrbio do sono).

Segundo Paulo Bertolucci, chefe do setor de neurologia do comportamento da Unifesp, não há nenhum benefício em se utilizar medicamentos como o Provigil e a Ritalina para turbinar a memória ou atenção. “Se a pessoa usar achando que vai ficar melhor pra fazer prova, ela pode tirar o cavalinho da chuva, ela não vai”, alerta o especialista. “A Ritalina melhora a atenção de quem tem distúrbio de atenção. Quem não tem, não vai melhorar nada”, completa.

Experiência
As pesquisas sobre a real eficácia na melhora do desempenho e os possíveis efeitos colaterais para uso offlabel ainda são raras no país. Um deles, conduzido pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), avaliou o efeito da Ritalina em recrutas do Exército na habilidade para atirar, além da capacidade de memória e tomada de decisão.

Segundo Pedro Ribeiro, do Departamento de Biociências da Atividade Física e do Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora da UFRJ e um dos coordenadores da pesquisa, o desempenho dos militares que receberam o medicamento foi superior ao do outro grupo, que não recebeu o remédio. Os testes foram feitos em ambiente virtual, semelhante a um videogame. O pesquisador explica que o medicamento atua em áreas específicas
do cérebro que são responsáveis pela execução da tarefa, melhorando seu desempenho.

A revista Nature realizou, em 2008, uma enquete com 1.400 pessoas em 60 países perguntando sobre o uso desses medicamentos sem fins terapêuticos. Uma em cada cinco pessoas que responderam à enquete confirmou utilizar pelo menos uma das medicações para aumentar a concentração.

“Não há dados estatísticos sobre o uso offlabel no Brasil”, comenta Claudia Itaborahy, pesquisadora da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). A venda desta classe de medicamentos cresceu mais de 20% apenas no último ano, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “Não é possível dizer se o aumento da produção de metilfenidato se deve somente ao uso prescrito”, afirma a pesquisadora, embora reconheça que houve aumento também das indicações médicas.

Segundo Thiago Rivero, pesquisador do departamento de Psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o principal risco do uso offlabel destas medicações é o de, a longo prazo, levar à tolerância química – quando doses maiores da substância são necessárias para produzir o mesmo efeito.

“Essa mesma questão acontece com medicamentos para aumento de memória, os quais são usados cada vez mais por jovens para lembrar melhor de questões da prova ou passar no vestibular. Em estudo de nosso departamento sugerimos que, em avaliação formal, a memória desse sujeito não mostra uma melhora tão significativa que justifique esse uso”, alerta o pesquisador. A pesquisa utilizou o Donepezil, substância comumente prescrita no tratamento da Doença de Alzheimer.

Fonte: UOL Ciência e Saúde

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