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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Terapia comunitária é referência no País e no exterior

Experiência pioneira do Ceará vem alcançando resultados expressivos e foi adotada como política pública em saúde.

Reconhecer-se no outro, fortalecer a autoestima e buscar soluções com o apoio daqueles que compartilham sua realidade. A terapia comunitária, uma metodologia desenvolvida de forma pioneira no Ceará, está sendo disseminada em outros Estados e até no exterior. A partir das vivências para lidar com diversas situações, os usuários dessa metodologia tomam para si o poder e a possibilidade de ampliar a resolução dos problemas do cotidiano.

Em 2010, o Ministério da Saúde transformou a terapia comunitária em política pública em saúde, sendo incorporada às ações do Programa Saúde da Família (PSF). Também é reconhecida desde 2004 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), como terapia que contribui na prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e familiares de dependentes de drogas.

Diferente de outros grupos de apoio, como os Alcoólicos ou Narcóticos Anônimos, as rodas não têm um tema específico e qualquer pessoa pode participar. "A terapia comunitária trabalha a competência das pessoas. O foco de nossa intervenção é o sofrimento, e não a patologia. Já as outras terapias focalizam a doença e é conduzida por um psicólogo ou psicoterapeuta. Na terapia comunitária não se faz análise, não se dá conselhos nem se faz julgamento e sim se acolhe a dor da alma. Promove identificações e vai construindo redes de apoio social", explica o médico Adalberto Barreto, criador da terapia.


Histórico:

Tudo começou há 24 anos, no Bairro Pirambu, em Fortaleza. O advogado Airton Barreto montou ali o Centro dos Direitos Humanos do Pirambu. Mas percebeu que muitas pessoas que procuravam o local traziam problemas familiares e pessoais.

Com o apoio do irmão, Adalberto Barreto, moradores do bairro eram encaminhados para o Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará (UFC). Mas a quantidade de pessoas foi tão grande, que ele decidiu ir ao bairro com um grupo de estudantes de Medicina.

Realidade pobre:

"Ele conta que um dia, após identificar uma mulher com depressão, receitou um medicamento. Quando ela viu a receita, disse: ´Mas, doutor, eu não tenho dinheiro nem para comprar comida, como é que eu vou pagar por isso?´. Foi quando ele percebeu como não havia preparo para lidar com a realidade dessas comunidades pobres", relata a psicóloga e terapeuta comunitária Doralice Oliveira.

As atividades de acolhimento e a metodologia, que aos poucos foram desenvolvidas, dariam origem ao Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Pirambu, mais conhecido como projeto 4 Varas. Hoje, a terapia comunitária atravessou os limites da Capital cearense, com grupos no interior e outros 17 Estados brasileiros. Países como França e Suíça já possuem polos de formação de terapeutas comunitários. México e Alemanha já demonstraram interesse em implantar esta prática.
No Brasil, já são mais de 17 mil terapeutas comunitários formados em atuação. Outro diferencial é que o terapeuta, apesar de precisar de uma formação de 360 horas, não precisa ter graduação acadêmica. A certificação é dada pela UFC.

"A força da terapia comunitária nasce da diversidade cultural brasileira. É uma ação que transcende classes sociais, profissões, raças, credos e partidos. Cada um partilha o seu saber, fruto da experiência para acolher as pessoas mais fragilizadas da comunidade", define Adalberto Barreto.

ABRANGÊNCIA:


Melhor aplicação em situações específicas.

Uma pesquisa realizada entre 2005 e 2006 avaliou a eficácia da terapia comunitária no Brasil. De um total de 12 mil questionários aplicados junto a participantes de rodas de terapia comunitária, 89,5% dos pesquisados afirmaram ter encontrado a resolução para os seus problemas através do apoio mútuo, do diálogo. A minoria precisou ser encaminhada para serviços especializados.

"Claro que nem tudo pode ser abarcado pela terapia, haverá casos em que é preciso um tratamento clínico ou psicológico. Mas é um dado que mostra que o acolhimento, o fato de ser ouvido, de pertencer a uma rede e ser reconhecido, contribui muito na eficiência da terapia", argumenta Doralice Oliveira.

Apesar da abrangência de situações nas quais a prática pode ser aplicada, a terapia comunitária vem gerando bons resultados em situações mais específicas. É o caso da aplicação da terapia na prevenção e atenção aos problemas decorrentes do uso de drogas.

"Em 2001, Adalberto Barreto fez uma formação em Brasília, da qual participei. Na época, eu trabalhava para a Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. Então eu me dei conta de que a terapia tinha tudo a ver com a prevenção, tratamento e reinserção social de ex-usuários de drogas e seus familiares. Foi quando começamos a pensar numa articulação desses dois campos", relata.

Em 2004, além de reconhecimento oferecido à terapia comunitária, a Senad promoveu o Dia Nacional de Prevenção do Uso de Drogas na Comunidade. "Naquele dia foram promovidas grandes rodas de terapia comunitária em todo o Brasil, mostrando que a prática pode atender grupos numerosos com qualidade e que pode ser usado como uma rede articulada". No mesmo ano, foi celebrado um convênio entre a Senad, a UFC e o projeto 4 Varas, a fim de oferecer capacitação em terapia comunitária para 780 lideranças sociais em 12 Estados. "No final de 2007, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ficou sabendo desse trabalho e entrou em contato com o Adalberto dizendo que queria que a terapia comunitária fosse um choque de atenção comunitária nas ações básicas", lembra.

Segundo Doralice, foi celebrado um novo convênio, entre a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), a UFC e o Ministério da Saúde para capacitar 1.075 integrantes do Programa Saúde da Família em 17 Estados. Ano passado, nova formação foi levada a 1.030 profissionais do PSF, com prioridade para os agentes comunitários. Em abril de 2010, foi lançado projeto piloto de formação de lideranças indígenas em terapia comunitária, massoterapia e técnicas de resgate da autoestima, para prevenção de drogas. Fazem parte do projeto as etnias pitaguary e tapeba, no Ceará e ticuna, patachó, kaingang, kaiowa, xacriabá de outros estados do país.

Projeto 4 VarasTel.: 3286-6049 // 3228-3848
Site: www.4varas.com.br
Bairro: Pirambu - Fortaleza
By Karoline Viana


Fonte: Diário do Nordeste

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