O fácil acesso ao crack é apontado por autoridades estaduais como principal
causa do crescimento da violência.
Para o deputado federal Givaldo Carimbão, que participou recentemente do Seminário Estadual de Combate às Drogas na Assembleia Legislativa do Ceará, a construção de penitenciárias e aumento do efetivo policial são uma "contramão do processo". Carimbão afirma que uma grande estratégia na redução da violência são as comunidades terapêuticas bem trabalhadas. "Investir nas comunidades terapêuticas é muito melhor que construir cadeias, contratar policiais e comprar carros". O deputado também defende o aumento do imposto dos cigarros e bebidas, as drogas lícitas, para financiar o combate às drogas ilícitas. Ainda de acordo com ele, manter um preso hoje na cadeia tem um custo mensal médio de R$ 3 mil, enquanto um dependente químico custa apenas R$ 800,00.
Não existe um número exato das vítimas do crack nas cidades do interior. Estima-se cerca de 100 mil usuários no Estado.
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O problema preocupa muitos prefeitos. "Eu não sei mais a quem recorrer. Hoje os meus melhores amigos viraram traficantes. Já tive que chamar a Polícia para prender meus amigos de infância. Estou vendo crianças fumando essa droga nas esquinas da minha cidade e não sei o que fazer para frear isso", declara um prefeito da Zona Norte, que preferiu não se identificar.
Francisco Gomes, de 26 anos, conta que é violento quando está sob o efeito do crack. Admite que se torna uma pessoa perigosa. Ele mostrou a humilde casa que dividia com seus pais, dois irmãos e uma tia. Tudo foi vendido para comprar a droga, até o portão de ferro foi trocado por 12 pedras de crack. "Não confie no dependente do crack. Quando a gente está drogado, o que eu ver no seu bolso, na sua mão, eu tomo. Quanto mais tu fuma, mais vontade te dá. Tu fica alucinado, não respeita pai, mãe", conta Gomes, que já conseguiu uma vaga numa casa terapêutica de recuperação em Massapê.
Pequenos furtos, homicídios, violência sexual, abusos sexuais contra crianças, tiroteios entre gangues de adolescentes e mendigos nas ruas como zumbis é o cotidiano entre usuários do crack. Crianças e adolescentes de 10 a 16 anos passam até sete dias sem dormir sob o efeito da droga. Perambulam pelas ruas, catando lixo para vender e comprar a "pedra".
"Eu perdi o meu emprego, emagreci 15 quilos e troquei a minha moto por pedras de crack. Estou sem ir na minha casa faz dois meses. Fico até sete noites sem dormir. Para manter o meu vício, eu me prostituo por R$ 5", afirma Francisca Pereira do Nascimento, de 24 anos, ex-funcionária de uma fábrica de calçados.
Em Sobral, ruas de bairros como Sem Terra, Sinhá Sabóia, Alto Novo e Terrenos Novos se transformaram numa verdadeira "cracolândia". A ausência do poder público faz surgir grupos sociais que apoiam pessoas dependentes da droga e proporcionam tratamento. Muitos deles ainda de forma inadequada e sem acompanhamento profissional compatível.
MAIS INFORMAÇÕES
Instituto Filadélfia
Avenida Doutor Guarany, S/N - Centro Sobral. Telefone: (88) 3611.1753
institutofiladelfia1@gmail.com
Lauriberto BragaRepórterCONSELHO TUTELAR
Aumenta dependência entre crianças
Juazeiro/Quixadá/ Crateús. O índice de envolvimentos de crianças e adolescentes com drogas e a vida na criminalidade se confirma no Cariri em relação aos dados nacionais, de acordo com o mapa da violência no Brasil. Essa constatação vem sendo feita por um grupo interdisciplinar das universidades do Estado, conforme o professor do Departamento de Ciências Sociais da Urca, Antônio dos Santos Pinheiro. Em Juazeiro do Norte, de acordo com o Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente da cidade, o que mais surpreende é o índice de crianças no mundo do crack.
Segundo a presidente do Conselho, Maria de Fátima Martins, é cada vez maior o número de crianças envolvidas com as drogas, principalmente o crack. Para ela, ainda são poucas as soluções para esses problemas. As políticas públicas são insuficientes. "Já recebemos crianças de 10 anos, viciadas em crack", frisa. Em dezembro de 2008, o Diário do Nordeste apresentou um diagnóstico do consumo de drogas pesadas, em especial o crack, no Interior do Ceará. Quixadá se destacava na região Central do Estado. Havia áreas de "cracolândia" na cidade.
Quase três anos depois a realidade é outra. O consumo desse tipo de droga caiu com ações contínuas de repressão. Vários traficantes foram presos. Mas a situação de alerta continua. Apesar do combate contínuo, o consumo de cocaína está aumentando, nas baladas e festas de forró.
Em Crateús, o número de consumidores vem aumentando nos últimos anos, segundo a Promotoria de Justiça. A droga se alastra entre os jovens, especialmente em alguns bairros da periferia, trazendo como consequência a ocorrência de crimes. Dez jovens, de acordo com o promotor, José Arteiro Goiano, já foram encaminhados para tratamento em Fortaleza e Teresina. Ele reivindica o trabalho no Município.
Elizângela santos/ Alex Pimentel/ silvania Claudino
Repórteres
ZONA NORTE
Documentário sobre problema em Sobral
Sobral. O Instituto Filadélfia, Organização Não Governamental que atua neste Município, vem mapeando o problema do crack na cidade. Decidiu agir, para tentar criar meios que possam ajudar os usuários a se libertarem da dependência, bem como orientar familiares e autoridades a encontrarem meios de combate eficaz do problema.
Em parceria com a produtora Tomada 1, a ONG passou uma semana visitando bairros, conversando com usuários pelas madrugadas, seus familiares e especialistas, para entender o motivo do aumento no número de homicídios cometidos por menores e pequenos furtos que já estão sendo registrados nos distritos.
Segundo o presidente do Instituto, Wellington Macedo, foram cinco horas de gravação com depoimentos fortes, tristes e preocupantes. O material rendeu um documentário de 18 minutos que ganhou o título: "A epidemia do crack em Sobral" e foi exibido pela primeira vez no dia 23 de setembro passado, no 1º Seminário Regional de Enfrentamento ao Crack, realizado no Centro de Convenções de Sobral. Veja íntegra do vídeo no www.diariodonordeste.com.br
"O meu ponto de vista mudou em relação a esses jovens. Eles também são vítimas de um problema social grave e de contexto muito mais amplo. Acho necessário uma ação conjunta das secretarias de Estado e Municípios, numa forte parceria com a sociedade civil na tentativa de encontrarmos uma saída emergencial", diz ele.
Conforme avalia, é preciso haver capacitação profissional para a recuperação dos dependentes, com orientações ampliadas nas salas de aula, igrejas e demais espaços sociais. "As comunidades terapêuticas coordenadas por líderes religiosos são uma importante oportunidade de recuperação".
Fonte: Diário do Nordeste