Estado e Município serão contemplados por lançamento de editais do Ministério da Saúde
Em um Estado onde os serviços de saúde não conseguem acompanhar a crescente demanda de pacientes dependentes de drogas ilícitas, repercutiu positivamente a iniciativa do Governo Federal de abrir, na tarde de ontem, editais para que os municípios de todo o Brasil implantem 6.120 leitos previstos no Plano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas.
"Com certeza, a novidade propiciará um avanço na assistência aos dependentes", disse a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Município, Evelyne Bastos, explicando que os recursos para Fortaleza ainda não foram definidos.
Pacto
Também o supervisor do Núcleo de Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Marcelo Brandt, ressaltou a importância da criação desses leitos. "Estamos aguardando a liberação dos editais, só assim conheceremos plenamente a proposta do ministério", frisou, acrescentando acreditar que será feita "uma pactuação com os municípios".
Além da oferta de leitos, a iniciativa do Ministério da Saúde inclui a ampliação dos serviços e a qualificação de toda a rede com um investimento de mais de R$ 140 milhões da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e do ministério. Já as comunidades terapêuticas do País, pela primeira vez, poderão ser beneficiadas, com a implantação de 2.500 leitos.
A cerimônia realizada no Palácio do Planalto, em Brasília, contou com a presença do presidente Lula e do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Conforme informou sua assessoria, Temporão lembrou que, apesar de o Sistema Único de Saúde (SUS) prestar atendimento a usuários de drogas, desde 2003, o Plano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas permite intensificar ações que ajudam a prevenir o problema, tratar os dependentes e coibir o tráfico. Do total de 6.120 leitos, 3.620 serão criados na rede pública de atenção à saúde, ou seja, nos hospitais, Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) e nas Casas de Acolhimento Transitório.
No âmbito da rede estadual, os pacientes com dependência de drogas são atendidos no serviço ambulatorial do Hospital de Saúde Mental de Messejana. Em âmbito municipal, os usuários recebem atendimento nos seis Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas, existentes em cada uma das Secretarias Executivas Regionais (SERs), onde a demanda costuma ser bem maior do que a oferta de tratamento.
Sem recomendação
Sem serviços de internação, os Caps de Fortaleza funcionam das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira. Para Evelyne Bastos, "hoje, não se justifica a existência de hospital psiquiátrico para se tratar a dependência química ou os transtornos mentais que apresentam os usuários". A recomendação médica é que esses pacientes sejam encaminhados a hospitais gerais.
Conforme adiantou, a intenção do Município é implantar Caps 24 horas, que possibilitem atendimento a qualquer hora do dia ou da noite. A ideia é dotar essas unidades com pelo menos oito leitos, para que, em situações mais graves, o paciente possa ser internado, isso em um prazo de até sete dias. "Se após esse período, ele (o dependente químico) não sair da crise, então será encaminhado para um hospital geral do Município", disse Evelyne Bastos.
POUCAS ALTERNATIVAS
Desafio Jovem e Caps AD são opções para tratamento
Cerca de mil pessoas são atendidas por mês, em tratamento ambulatorial, no Desafio Jovem do Ceará. Em regime de internamento, são 40 vagas. Contudo, devido à difícil condição financeira da instituição - que depende de doações, parcerias com Município, Estado e Governo Federal, além de convênios com empresas privadas - abriga atualmente 22 dependentes. Entre as causas de internamento, o crack vem em primeiro lugar.
O diretor administrativo do espaço, Eudson Matias, explica que as outras drogas também existem, mas os usuários estão migrando para o crack, pois é mais barato, alucina mais rápido e é encontrado em todo lugar. Já o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), da Secretaria Executiva Regional (SER) IV, recebe, em média, 200 a 250 dependentes mensalmente.
Crack e álcool são os problemas mais recorrentes. Pedro Câmara, coordenador da unidade, informa que os Caps AD utilizam uma metodologia diferente, focando na redução de danos e na qualidade de vida, não necessariamente com abstinência. "Vamos tentar chegar a isso, mas se a pessoa está usando a droga, pregamos que seja um uso menos nocivo, tanto para ela quanto para a família e a sociedade". Os casos mais graves são encaminhados para hospitais clínicos.
Fonte: DN
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