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terça-feira, 28 de setembro de 2010

"Crack tem provocado uma devastação no Brasil"

O avanço do consumo do crack foi o tema do O POVO Quer Saber. O integrante da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, Jorge da Silva, falou sobre a importância de estabelecer novas percepções sobre o tema

É preciso mudar os paradigmas de repressão para conter o avanço do crack. Na quarta edição do programa O POVO Quer Saber, o coronel reformado da Polícia Militar e integrante da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, Jorge da Silva, falou sobre a importância de estabelecer novas percepções sobre a temática e distinguir o traficante do usuário. Ele se mostrou a favor da descriminalização das drogas. “A premissa de que dá para conter o problema só prendendo traficante e usuário é falsa. Esse modelo repressivo está falido”.

 O assunto foi discutido ontem na TV O POVO, com transmissão simultânea pela rádio O POVO/CBN e portal O POVO Online. Para Jorge da Silva, a facilidade do acesso e a democratização do consumo em todas as classes sociais acabam despertando um olhar mais atento sobre o crack. “A pedra, que custa em média R$ 6, tem provocado uma verdadeira devastação em todo o Brasil”, opina. Em 2005, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) registrava um usuário de crack para cada 200 atendimentos, por mês. Em 2008, houve um crescimento de 57% no número de usuários de crack. “É uma epidemia. Os dados mostram que estamos passando por uma calamidade pública e que é necessário criar um plano de ação específico de enfrentamento”, comenta.

Entre as ações, Jorge da Silva propõe que seja estabelecida gradação quanto à punição do traficante. “O garoto que vende droga para sustentar o vício é diferente daquele todo-poderoso que visa o lucro”. Este último torna-se mais perigoso porque geralmente está envolvido no aliciamento de jovens – já que precisam de cada vez mais pessoas usando drogas. Em contrapartida, aqueles que são traficantes para manter o vício acabam sendo vítima duas vezes, do sistema e da sociedade, destaca ele.

Ele lembra que o modelo repressivo, como os caveirões do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), marca da polícia carioca até pouco tempo, tem perdido espaço para outras formas de retenção do tráfico de drogas. “Quando a criminalidade começou a ficar mais próximas dos bairros nobres, perceberam que esse modelo não resolvia. A violência e o consumo de drogas só aumentavam”, lembra. A mudança do paradigma veio com o fortalecimento da função da polícia em proteger, ajudar e apoiar a comunidade.

Para o convidado do O POVO Quer Saber, a droga é uma questão social e não basta ser combatida através da prisão. A legislação brasileira tem acompanhado essa tendência com a despenalização do usuário. “Continua sendo crime, mas o usuário deixa de ser punido”, destaca. Com isso, favorece a criação de novas estratégias para combater o avanço do consumo da droga. O governo federal investiu R$ 300 milhões em novas estratégias, como a implementação no sistema de saúde do cuidado com o usuário. “Antes da lei antidrogas, quem assumisse que era usuário e procurasse tratamento era considerado criminoso. Hoje, com novas políticas públicas, os dramas estão sendo minimizados”, opina.

PERFIL

Jorge da Silva é coronel reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, integrante da Comissão
Brasileira sobre Drogas e Democracia
e atual professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).


SAIBA MAIS

TRATAMENTO

O tratamento para o dependente químico não pode ser obrigatório, deve ser espontâneo. De acordo com Jorge da Silva, entrevistado de ontem do projeto O POVO quer saber, o único caso de obrigatoriedade de
internação seria quando o consumo extrapola a individualidade do usuário
e coloca em risco a ordem pública.
PROJETO

Este é o quarto ano do projeto O POVO Quer Saber. Nesta edição, já foram discutidos temas sobre criminalização da homofobia, segurança
pública, desafios para o transporte público e pedofilia.

TEMA

O próximo programa do O POVO Quer Saber está marcado para outubro. Para sugerir o tema a ser discutido, basta acessar www.opovo.com.br/ opovoquersaber


E-Mais

O pesquisador Jorge da Silva reconhece que o movimento de descriminalização do uso das drogas é um tema polêmico. Ele afirma que o processo em Portugal tem sido exitoso e o Brasil pode aprender com a experiência do País, levando em consideração suas especificidades.

“A ideia de que o país se tornaria um narcoparaíso não se confirmou. Não houve uma corrida para o consumo das drogas e surgiram mais vagas nas prisões. O modelo foi exitoso e poderíamos adaptar para o Brasil”, destaca.

Outro aspecto a ser levado em consideração é o número crescente de policiais envolvidos em drogas. “É uma questão complexa, não dá para achar que tudo pode ser resolvido com punição. Essas pessoas precisam de tratamento, de ajuda”, destaca.

Política de redução de danos x Política de redução de riscos. Para Jorge da Silva, o usuário de drogas que vive na rua precisa ser reintegrado à sociedade baseado na política de redução de riscos.

Segundo Jorge da Silva, o Brasil não é produtor de drogas, como cocaína e heroína. “A tentativa da nova lei anti-drogas e interceptar as drogas que vem de fora para o Brasil. O nosso problema está na fronteira”.

Quanto ao crack, é diferente. O Brasil conta com inúmeros pequenos laboratórios. “precisamos estancar a produção para interferir na facilidade do acesso à droga. Se não consegue abastecer o mercado, a droga que conseguir entrar no País vai subir de preço e deixa de ser acessível”, comenta. Foi o que ocorreu nos Estados Unidos.

NO PROGRAMA

Erick Guimarães é mediador do projeto O POVO Quer Saber e editor-chefe-executivo do O POVO.

Juliana Matos Brito é editora-adjunta do núcleo de Cotidiano do O POVO.

Henrique Araújo é repórter do núcleo de Cotidiano do O POVO.

Tiago Braga é repórter do núcleo de Cotidiano do O POVO.

Fonte: Jornal O POVO

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