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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cuidando do cuidador

Nos Centros de Apoio Psicossociais (Caps), o atendimento, por vezes, começa com a família. Quando o dependente não se permite aos cuidados, é a família que toma a iniciativa e começa a fazer parte dos grupos.

Mesmo que o usuário não se permita o tratamento, a família pode começar a frequentar os grupos de apoio. Assim ocorre nos Centros de Apoio Psicossociais (Caps), incluídos nos serviços da rede assistencial de saúde mental de Fortaleza. Os que cuidam de pacientes dependentes são os Caps Álcool e outras Drogas, os Caps AD. Lá, os profissionais também entendem que a família precisa de atenção. Até visitas domiciliares são realizadas para que possam orientar os familiares e explicar o serviço.

Rane Félix, membro da Coordenação da Saúde Mental do Município, insiste que a família nem sempre consegue ajudar o parente que precisa de tratamento. Às vezes, só piora a situação, deixando o outro mais aborrecido. Por isso, a família tem de entender qual a melhor hora de falar e agir. “Independente de o usuário estar ou não em atendimento no Caps, a família pode começar indo. A partir da família, a gente vai tentando chegar ao usuário”, descreve.

Nos Caps, são expostos à família os efeitos de cada droga, os sintomas, como cada uma atua no organismo de quem usa. Como mexe com o todo, não é aconselhável tentar abordar o paciente enquanto ele estiver sob o efeito da substância. Embriagado, por exemplo. Deixa para conversar quando ele estiver bem, sóbrio e consciente.

Médicos, psicólogos, enfermeiros, profissionais com capacitação para lidar com o assunto são encontrados nos Centros. “A família deve participar dos grupos. Lá, os psicólogos vão dar toda a explicação do tipo de tratamento que será utilizado”, indica. Em cada área compreendida pela Secretaria Executiva Regional (SER), há Caps. Pode participar das reuniões qualquer pessoa que tenha a função de família. Um amigo, um vizinho até. Mas quem participa mais são as mães, atesta Rane.

Das drogas que mais têm preocupado as famílias, o álcool segue liderando. Mas o uso do crack tem aumentado, de acordo com a experiência de Rane. “Também há uma quantidade grande de pessoas que fazem multiuso, usam mais de uma droga”, aponta ela. Nos Caps, são atendidas cerca de 3.600 pessoas por mês e cerca de 900 nos Caps Infantil. Um número que só cresce. Ainda bem que existe ajuda. (Daniela Nogueira)

SERVIÇO

A Fazenda da Esperança fica localizada no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), na avenida Alberto Craveiro, 2222, no bairro Dias Macedo (próximo ao estádio Castelão). A casa recebe doações de alimentos. Telefone: 3232 9265.

PERFIL

Paula Cortez está há 10 meses na Fazenda da Esperança, no CEU. Nasceu no interior de São Paulo, filha de pais também missionários voluntários da Fazenda. Seus cinco irmãos também atuam nas casas da esperança. Alguns, no Exterior. Ano passado, ela veio das Filipinas, onde trabalhou como voluntária e deixou um noivo, missionário. Ela fica onde for chamada. Vive com as doações que recebe da sua família – de roupas e outros objetos pessoais. Aqui, sai em busca de doações para a casa da qual toma conta. Paula gosta do que faz, por mais que, às vezes, venha a saudade. Longe de casa, longe da família, ela precisa equilibrar seu autocontrole para coordenar as mulheres que lhe pedem guarida. Principalmente quando uma, raivosa porque Paula descobriu que ela fugia à noite para fumar, tentou lhe agredir. Foi mandada embora da casa. Não correspondeu à misericórdia que tiveram com ela, quebrou uma das regras do jogo. Ela sabe que precisa ser forte, a Paula, de 26 anos. Não pode demonstrar fraqueza, não pode se render aos dengos de várias mulheres juntas, aprendeu a decifrar cada manha. Pela experiência mesmo. Sonha em fazer Serviço Social. Quer se aprofundar, estudando, no que aprendeu com a fé. Ao falar das mulheres, em fase de tratamento, Paula fala em “canalizar o amor”, em “amar o outro na diferença”, em demonstrar “o carisma da esperança”, em “olhar novo”. Admite que se sente um pouco mãe de cada uma ali: “Se elas estão com dor, eu sofro junto”. No sentimento inverso, a felicidade é sem tamanho.
Só não maior que a esperança.(DN)

Fonte: Jornal o Povo - Matéria 6/6.

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