O problema desembarcou em casa e é hora de encará-lo. Nenhuma família está imune à desejável visita. A receita é surrada, mas funciona: a conversa segue como o bom remédio de prevenção.
Ter um familiar com envolvimento em álcool ou outro tipo de droga requer investigação. É preciso saber como teve início o problema, analisar os fatores, estudar a situação. É isso o que fazem os centros de recuperação ao receber os pacientes. A família deve entender que o cerne do tema é administrar relações. Mesmo com pais separados, com dificuldades no lar. Conversar, demonstrar carinho, confiança. Receitas antigas, simples, que, se seguidas, ajudam a não deixar brechas para que o filho encontre conforto em entorpecentes.
Paula Cortez trabalha na recuperação de mulheres dependentes do álcool ou de outra droga há 12 anos. Voluntária, missionária, lidera os trabalhos na Fazenda da Esperança, no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU). Sempre que chega uma para tratamento, ela pede conversa com a família - pais e filhos. “A base é sempre a família. Os pais, mesmo que sejam separados, têm de mostrar que têm amor. A maioria das mulheres que se envolveram com drogas era uma criança isolada, muda, quieta demais. Ou, ao contrário, que sempre respondia demais ao pai”, lista.
Também há as dependentes que sofreram abuso sexual ou outro tipo de violência. Em geral a causa é algum sofrimento. E o escape, algo que tire da dor. Ela adverte: os pais precisam conhecer os amigos do filho e o relacionamento dele na escola. “Os traficantes querem clientes e o crack está avançando. Se os pais não cuidarem, vão perder seus filhos para o crack”, expõe Paula. E não existe classe social específica. Da A à E, todos estão vulneráveis.
Ademir Lopes Júnior, médico de família e comunidade, lembra que, em muitos casos, o uso da droga tem seu estopim na adolescência. “O adolescente procura imitar os adultos ou, então, desafiar os adultos. E o álcool é uma droga permitida no dia a dia, é socialmente aceita. Os pais têm de se preocupar com essa questão”, observa ele, que é membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
Responsável pelo Instituto Volta Vida, o farmacêutico Osmar Diógenes atua há um bom tempo no renascimento das esperanças. De pacientes e famílias. “O maior problema hoje é o crack. O tratamento é dificílimo e tentar se tratar só em casa é quase impossível”, alerta. Porque as famílias também têm de ser cuidadas, ouvidas, recuperadas. “Se não se trata a família, ela atrapalha, prejudica”, atesta ele. Declaração semelhante deu Paula Cortez, da Fazenda da Esperança: “Se a família não estiver preparada, estraga tudo, atrapalha tudo”.
Lado espíritual
O suporte espiritual também conta. Os especialistas atentam que acreditar em um ser superior dá mais ânimo durante e após o tratamento. “A dependência é uma doença química, psíquica e espiritual. E falo do lado espiritual, não religioso. É o que a gente sempre diz a eles: ‘Vá para a sua igreja, peça energia ao seu ser superior’”, tece Osmar Diógenes. Se a religião ajuda? “Eles se tornam mais humildes, mais tementes, têm mais força”. (Daniela Nogueira)
Fonte: Jornal o Povo - Matéria 1/6.
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